Autor Tópico: 10 minutos bastaram …  (Lida 4962 vezes)

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Offline Filipe Araújo

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10 minutos bastaram …
« em: 02 / Fev / 2012, 17:38 »
 De alguns anos a esta parte, que me tenho cada vez mais rendido, aos resultados dos vídeos que vejo no Vimeo, em especial aos movimentos feitos com slides.

 No ano passado tinha comprado uma nova câmara, mais concretamente uma Sony NX5E que me permite o Full-HD e tinha como objectivo para este ano, investir em mais alguns acessórios como parte de um processo de reformulação ou “revolução” do trabalho. Era meu desejo criar e conseguir aqueles planos certos e estáveis que tal ferramenta o permite e elevar o nível do meu trabalho.

 Já o estava a namorar, podia ser novo ou usado, ia ser um glidetrack e colocar-lhe-ia uma cabeça Manfrotto como dizem as regras, iria resistir a caminhos caseiros para que mais tarde não me arrependesse. Já estava até na fase de pesquisar os preços, e muito perto do investimento.
 No fim-de-semana que passou, tive a coincidência de cruzar-me com um profissional da área e que sobre uma mesa lá tinha o dito acessório, por coincidência com a cabeça que eu desejara e tudo. Haviam de ver, não sei o que reluzia mais, os cromados do bicho ou os meus olhos, parecia um momento “soft-dream”com a primeira bicicleta.

 Não perdendo a oportunidade, dirigi-me ao colega e toca a por conversa sobre as minha intenções de longa data e o pedido de uma opinião sobre o meu ponto de vista.

 Nos 10 minutos que se seguiram e após a transparência e objectividade do colega que simpaticamente me aturou, senti que foram um enorme evitar de asneira, e isto porque, segundo ele, e que também tinha uma câmara do género da minha, só iria tirar partido desta solução se comprasse uma D-SLR e lentes fixas, a exemplo de uma 50 mm 1.4. , entre outras que trazia. Só assim conseguiria criar o efeito de focagem/desfocagem que uma curta profundidade de campo pode trazer.  Para além disso, alertou-me para a necessidade de mais um elemento humano para o dia, para a execução correcta de todas as tomadas. Na verdade, assisti, talvez pelo peso da câmara que precisou do apoio de mais um colega para a total execução dos movimentos.

 Conversa para a frente, e para trás, facilmente entendi que aquele conjunto de guias com cabeça, teria de acrescentar lentes, câmara DSL-R, pessoa, risco, etc. Num momento em que ninguém sabe onde a economia vai parar, seria muito difícil aumentar e justificar os preços do serviço.

 Se calhar, acabarei por investir num monopé, sempre posso viver com o prejuízo e algum tempo que preciso para os baptizados.

 Pois é, bastaram 10 minutos, para que a minha bicicleta ficasse com os pneus furados, volante quebrado e os raios como uma fisga.

 Cumprimentos a todos, Filipe Araújo.
« Última modificação: 02 / Fev / 2012, 17:41 por Filipe Araújo »

Offline José Costa

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Re: 10 minutos bastaram …
« Responder #1 em: 02 / Fev / 2012, 19:21 »
Boas.
Gostei da escrita, da partilha da experiência. Era mais disto que gostava de ler por aqui. Boas.
O profissional inovador não segue a multidão. Ele tem lucidez para remar contra a maré e não se importa em ser taxado como "um estranho no ninho". - Luiz Roberto Carnier

Offline Filipe Araújo

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Re: 10 minutos bastaram …
« Responder #2 em: 03 / Fev / 2012, 10:57 »

 Obrigado José Costa pelo elogio,


 sem dúvida que as experiências de uns, podem ser os remédios de outros. No meu caso, a experiência do colega evitou-me investimentos desnecessários, ao ponto de querer partilhar a experiência para evitar males a terceiros. Neste momento, já temos um estado cada vez mais sedento, os acessórios cada vez mais só disponíveis on-line, os nossos "noivos" cada vez casam menos e cada vez com menos dinheiro. Se não contarmos com nós próprios e que vivemos exactamente os mesmos problemas com quem iremos contar.


 Cumprimentos, Filipe Araújo.

Offline José Costa

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Re: 10 minutos bastaram …
« Responder #3 em: 03 / Fev / 2012, 16:04 »
Boas.
Um comentario, uma observação, para os que eventualmente possam não saber:
Uma câmera de video concencional não é impedimento para a utilização de um slider. São independentes um do outro. Por sua vez, um slider em nada acrescenta ou retira á profundidade de campo. São também independentes um do outro. Um slider, ou a função de um slider, é permitir fazer um travelling estável, e é essa a sua única função. E na minha opinião, é mais um plano que se torna possivel fazer nos nossos trabalhos. Mas quando usado em excesso, que é o que se começa a verificar, fica horrivel.

A profundidade de campo obtem-se com objectivas luminosas, teleobjectivas, sensores grandes, como variáveis mais importantes. Ambas têm vantagens e inconvenientes. É a utilização das objectivas certas com o slider que permite obter trabalhos diferentes. Em separado ou em conjunto. Muitas vezes nem melhores nem piores que outros, apenas diferentes. Mas é preciso ter consciente de que se as imagens não "falarem", se não forem "fortes", não é o slider que vai permitir obter o que se procura.

Para o Filipe Araújo:
O maior inconveniente que eu vejo na utilização do slider é no tipo de trabalho que se faz. O chamado cinema Indie permite que se possa estruturar os planos, permite fazer experiências para se obter os planos certos à gravação final das imagens. A reportagem não permite nada disso, pois pode acontecer tudo a qualquer momento e não se controla nada. Utilizar imagens em slider em abundância torna o video "pesado", retira a naturalidade, a fluidez. Pelo que o slider acaba por ser usado apenas meia dúzia de vezes em cada trabalho, se tanto. Além disso, não é praticavel ser uma só pessoa a fazer tudo: som, captação de imagem, iluminação, slider... querer fazer uma grande omelete só com um ovo não dá. Torna-se necessário ter alguém a ajudar, isto se queremos fazer um bom trabalho. Mas aí entra a questão dos valores que o cliente paga, e nós sabemos que a maioria dos clientes não está disposta a pagar. Fica a questão do nicho de mercado, aqueles que têm dinheiro para pagar, e pagam, mas o trabalho tem de ser muito bom, e nunca é feito por uma só pessoa.

Nos muitos trailers que vemos na net, respeitantes a casamentos, é preciso não esquecer que normalmente têm pelo menos um individuo  responsável pelo slider, enquanto que outro anda a fazer a reportagem dita "normal". Vemos o resultado final, os ditos trailers, mas não vemos os bastidores, pelo que é preciso não nos iludir-mos com as imagens apresentadas.

Avaliando a relação custo/beneficio de um slider, quando é só uma pessoa a fazer a reportagem, tenho dificuldade em aconselhar a compra de um. O slider até pode ser barato, mas se não fôr utilizado, acaba por saír caro.

Dois cêntimos de opinião. Boas.
« Última modificação: 02 / Set / 2012, 00:23 por José Costa »
O profissional inovador não segue a multidão. Ele tem lucidez para remar contra a maré e não se importa em ser taxado como "um estranho no ninho". - Luiz Roberto Carnier

Offline Filipe Araújo

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Re: 10 minutos bastaram …
« Responder #4 em: 03 / Fev / 2012, 18:50 »

 
Boa tarde a todos,

Também …“Era mais disto que gostava de ler por aqui.” E obrigado pelos 2 cêntimos.

Quando coloquei aqui o tópico, além de desabafar e partilhar, tinha expectativas de respostas como a que deu, ou seja, alguém com mais experiencia ou com uma câmara como a minha usasse um slider e contestasse ou confirmasse a minha opinião. Afinal faz parte das regras do jogo dos tópicos, é o risco que se sofre quando a base da retórica é o voluntarismo de cada um, não se pode exigir, apenas esperar. Quando li esta sua resposta, senti-me de novo compensado pelo tempo investido, para além do meu desabafo.

 Por uma questão de forma de estar e de limites orçamentais, sempre defendi equipas pequenas nos serviços, creio que quantas menos intromissões houver no dia, melhor será o registo puro para a memória do mesmo. No entanto, isso não signifique que aumente ao número de acessórios, desde que o trabalho seja viável e não aumente o número de elementos. Fi-lo no passado, com o uso do tripé, essencialmente nas cerimónias, exteriores e quinta, e senti um enorme crescente no resultado do trabalho.
 Sei que não posso confundir um slider e um tripé com a relação custo beneficio.

  Face aos resultados cada vez mais vistos em vídeos do vimeo, etc, sinto que a nossa actividade nunca sofreu tanta pressão para ser mais exigente consigo própria, por isso, algum tempo optei por reformular-me como profissional do vídeo, para tal foi preciso ultrapassar um número de etapas, a primeira, a troca de uma câmara que trouxesse-me mais nitidez. Neste momento ponderaria o investimento cauteloso em algum/alguns destes acessórios: monopé, slider ou steady (de mão, não o colete), como forma de enriquecer e melhorar o produto final dos serviços. Vamos a ver.

 
 Cumprimentos e grato, Filipe Araújo

Offline AC

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Re: 10 minutos bastaram …
« Responder #5 em: 04 / Fev / 2012, 04:58 »
Filipe
Não vou acrescentar nada, mas não posso deixar de referir que foi muito agradável ler o teu texto, bem escrito e com conteúdo.
Reitero as palavras do José Costa: "Era mais disto que gostava de ler por aqui."
A quem não quer ver, nem a mais intensa luz ilumina!

Offline Filipe Araújo

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Re: 10 minutos bastaram …
« Responder #6 em: 04 / Fev / 2012, 17:15 »

 Muito obrigado A. Caneira.

 Sinto-me muito honrado pelos vossos elogios.

 Filipe Araújo.