Boas.
Sejamos francos: a reportagem video de um casamento, pelo que ela é e pelo que representa para os noivos e para a sociedade em geral, exige uma sonorização do trabalho final a condizer. A musica não pode ser qualquer uma nem em qualquer estilo. Tem de ser romantica, de preferencia bastante conhecida e badalada no momento, que seja do agrado dos noivos. O ideal mesmo é que sejam eles a escolher as músicas que querem, não vá o Diábo tecê-las e eles virem depois reclamar que não gostam desta ou daquela, que querem uma mas não querem a outra. Assim, escolhem eles as músicas e pronto. Vai a gosto deles e ponto final. Pelo menos, este é o conceito que a maioria dos op. de câmera que eu conheço adopta. Mas eu não. Não que eu seja superior ou inferior a eles, deixo essa avaliação para quem a quizer fazer, mas apenas porque gosto de ser diferente. Com tudo o que isso possa significar.
Não gosto de seguir tendencias. Gosto de trilhar o meu próprio caminho em função daquilo que entendo que deve ser uma reportagem video. Gosto de personalizar cada trabalho que faço, de fazer coisas novas, diferentes, tentar ser um pouco original, se bem que este mercádo não dá para muitos malabarismos.
O raio é que quando se faz trabalho para uma casa de fotografia (ou várias), o cliente deixa de ser os noivos e passa a ser a casa fotográfica. Esta, não quer saber de uma personalização no trabalho, de um trabalho feito á medida dos noivos, pois isso significa um preço superior a pagar pelo video. Querem tipo "Chapa 4", querem receber do op. de câmera o trabalho com uma mão, entregarem no mesmo momento com a outra mão ãos noivos, e receber no dobro daquilo que vão pagar a quem fez o serviço. Ou seja, se vão pagar 50 ão op. de câmera cobram 100 ãos noivos. E contra isto pouco se pode fazer.
Quando assim se trabalha, a verdade tem de ser dita. Não se pode fazer um trabalho único, um trabalho diferente. Que isso obriga a conhecer antes do casamento os noivos, a saber da sua personalidade e gostos, e lógicamente, a um preço também ele diferente. E é aqui que a porca torce o rabo, pois se os noivos estão até a fim de pagar mais por um serviço diferente, o mesmo não se pode dizer das casas fotográficas, pois o método de cobrar no dobro ãos noivos inviabiliza a personalização do serviço, limita o lado artistico do trabalho. Pois um trabalho diferente obriga a um maior trabalho de edição de imagem, além de uma maior quantidade de imagens a ser captadas no dia do evento. E assim posta as coisas, outra coisa não resta a fazer do que fazer a quase "Chapa 4" que todos os outros fazem. Não faço bem a "Chapa 4" mas anda lá muito perto. E o cliente final (os noivos) é que perdem com este estado de coisas.
Mas estes não. Desde o inicio que deixaram claro que queriam uma coisa diferente. Já tinham visto um trabalho meu pelo que queriam ser novamente surpreendidos. Não sei como, mas a verdade é que conseguiram fazer com que a casa fotográfica repensá-se o seu método de "cobrança". Lógicamente que eles (os noivos) não sabiam como as coisas funcionavam, mas a insistencia deles por algo diferente, e pelo "afloramento" da ideia de que se a casa não conseguia fazer o que eles queriam, que então iam procurar uma outra que fosse capaz de o fazer, esta "ameaça" fez com que a casa abdicá-se de uma parte considerável dos seus 100% de lucro e me desse carta branca para fazer um trabalho único. Carta branca, o tanas, pois lá foram dizendo que não pagávam muito mais que o habitual e para não inventar muito no serviço, que esta era uma vez sem vez.
Mesmo sem falar com os noivos, já sabia o que eles queriam, pois sabia o trabalho que eles tinham visto. Fiz o meu preço á casa fotográfica, que entre palavras tipo "você é maluco!" e "não está bom da cabeça!", só faltou a eles mandar um bando de malfeitores me dar um enxerto de purráda. E para que conste, o preço não era assim tão elevado, pois pouco mais cobrei que o preço habitual que a casa cobra ãos noivos. Mas é claro, se a casa fotográfica ia cobrar ãos noivos o dobro como habitualmente o faz, facilmente se chega á conclusão de que o cliente (os noivos) desistem. Fica por um valor elevádo. E para que também se conste, não sou contra as casas terem a sua margem de lucro. Sou é contra a margem de lucro que é cobrada. Mas isso também é culpa dos op. de câmera. O individualismo que cada um teima em manter é propicio para este estado de coisas. Só temos o que merecemos...
Bom, o valor foi aceite, pois de outra forma não aceitáva o trabalho. Combinei um dia para falar com os noivos, pois queria saber um pouco mais sobre eles. A personalidade, gostos pessoais, as espectativas que tinham. E aproveitei para fazer alguns avisos e algumas exigencias. Exigencias essas que podiam ser todas traduzidas no seguinte: colaboração! Se queriam um bom trabalho tinham que ser minimamente colaborantes comigo. Essa de torcer o nariz ão que os profissionais pedem (se bem que também á alguns profissionais que abusam), mas essa de torcer o nariz e fazer má cara não dava para o trabalho em questão. Tinham que ser minimamente participantes. E este é também outro dos assuntos com os quais não estou de acordo com o método de trabalho da grande maioria dos fotografos. Na ânsia de "apanhar" o cliente, nem abordam os aspectos que deviam abordar. Mas também verdade seja dita, não estamos a falar de fotografos...
Para rápidamente chegar ão final desta história que me propus contar-vos, cá vai: enquanto faláva com os noivos, os seus gostos musicais, o aspecto fisico de cada um, entre outros factores, só me permitiam visualizar um determidado estilo de trabalho e com uns determinados estilos musicais. Não lhes disse o que ia fazer, pois nunca lhes revelo estes pormenores. Apenas lhes fiz ver que compreendi o que pretendiam e que podiam estar á vontade, pois iam ter o pretendido.
No dia e hora estabelecidos para o evento lá estava eu. Captei as imagens que entendi ser necessarias, tentei ser o menos invasivo possivel durante o dia e parti para a edição video. Como músicas utilizei AC-DC, Pink Floyd, Metallica, Tubular Bells e alguma musica clássica. A disparidade de estilos serviu para intervalar com os vários momentos do dia.
Sou suspeito para falar, mas o trabalho agradou a todos, em particular ãos noivos (agora casal). A todos minto, pois a mãe dela não gostou muito da versão "pesáda". Mas como tal já tinha sido previsto por mim (não sabia que a mãe em particular não ia gostar, mas calculei pela idade dela, que estaria muito á frente dos seus gostos e de outros da mesma idade), no DVD inclui uma versão, que depois de falar com os noivos e de obter a sua "autorização", inclui uma versão chamada "Filme Lamechas". Eram cerca de 20 minutos de tudo o que de importante aconteceu no dia, uma montagem com a respectiva música a condizer (esta já muito mais calma), e muito mais a gosto da mãe.
Quando tempos depois os encontrei num serviço, em que eles eram convidados, fiquei a saber que a mãe tinha aprendido a gostar da versão "pesáda", que o casal gostáva de ambas as versôes (com predominancia para a "pesáda") e que os amigos, a grande maioria deles, não sabia por qual das versôes optar. Eram versôes diferentes, diziam eles. Gostavam de ambas.
À custa deste trabalho, já ganhei mais dois. A casa fotográfica também "ganhou" o serviço de fotografia. Mas perguntem-me se estão satisfeitos. Não! Preferem que eu faça "Chapa 4". Num ganham 100%, no personalizado não.
A conjugação de determinados estilos musicais, até mesmo os que á primeira vista parecem ser opçôes pouco plausiveis para este tipo de trabalhos, mas a conjugação de certos estilos musicais com as imagens certas e os ritmos certos, pode transformar por completo uma reportagem video. Ajudam a quebrar o império da "Chapa 4" que reina neste mercádo. È possivel fazer-se um óptimo trabalho, original, com gosto, sem cair no exagero que muitas vezes se vê por ai, em que se assiste a uma reportagem de efeitos especiais em vez de um casamento. Mas é claro que para isso é preciso que os profissionais estejam para ai virádos e que as casas fotográficas deixem de ser tão gananciosas. Pois os clientes existem e estão dispostos a pagar, desde que seja um valor justo.
Quanto á casa fotográfica em questão, que o mais certo é virem a ler estas linhas, que me desculpem a inconfedencia. Não revelo o nome, mas não escondo o que penso do assunto. Tanto mais que fartos de saber o que eu penso estão eles. E não fosse o facto de alguns clientes quererem os meus serviços, que já á muito tinha sido desterrádo para um qualquer lado. Pois isto de colocar a boca no trombone tem os seus custos. Altos, por vezes demasiádo altos, mas também me custa roer por dentro o que me vai na alma. Boas.