Boas.
Técnicamente, um NAS trabalha a nivel de ficheiro, enquanto que uma SAN trabalha a nivel de bloco. O que é que isto quer dizer?
Tome-mos um exemplo: temos um ficheiro de video. O SO (sistema operativo) vai dividir esse ficheiro em, por exemplo, dez partes iguais. Vamos chamar-lhes bloco 01, bloco 02, bloco 03,...... bloco 09 e bloco 10, a cada uma dessas partes. Cada um destes blocos, ou partes, é constituido por bits, os zeros e uns da informação. Um disco rigido grava cada uma destas partes, naquilo que se chama sectores. De uma maneira muito simplista, um disco rigido está dividido no seu interior em pequenos "contentores". Cada um destes "contentores" armazena uma determinada quantidade de informação. Estes "contentores" têm então o nome de sectores, e a quantidade de informação que guardam é determinada pela formatação, sendo que se pode dizer, também de uma forma muito simplista, que a formatação de um disco rigido é a estrutura organizacional que lhe é imposta pelo SO. As nossas partes ou blocos do ficheiro vão ser gravadas nos sectores do disco rigido, uma parte ou bloco em cada sector, sendo que cada sector armazena apenas um bloco. Juntamente com a gravação destes blocos, é também gravado bits de controlo, que indicam quais blocos pertencem a qual ficheiro, qual a ordem de cada bloco na estrutura e também a sua localização, em cada sector do disco rigido.
Quando um programa, um NLE por exemplo (editor não-linear, mais conhecido por software de edição video), pede um ficheiro, o disco rigido acede esses sectores e entrega o seu conteúdo. Sendo cada sector um bloco, estes são entregues ão programa, pela seguinte ordem: ão fazer Play na timeline do NLE, no inicio do video, o NLE vai pedir ão disco o bloco 01, e o disco vai ler e entregar ão NLE os dados desse bloco. O NLE mostra-nos o conteúdo desse bloco, que no nosso caso é o inicio do nosso video. Mas o bloco 01 é apenas uma parte do video, pelo que o NLE vai pedir o bloco 02 e o disco rigido entrega o seu conteúdo. O NLE continua a mostrar o video e pede o bloco 03, o disco entrega e assim sucessivamente até chegar ão final do nosso video, que corresponde ão bloco 10. Durante todo este processo, a visualização do nosso video acontece sem qualquer paragem, sem nada que nos indique o que está a acontecer. Acontece e pronto.
Mas o que é que acontece se, por exemplo, fizermos Pause a meio do video? O NLE vai pedindo sucessivamente os blocos ão disco rigido. Ão pressionarmos o Pause, o NLE interrompe a leitura do nosso video e ão mesmo tempo deixa de pedir os restantes blocos ão disco. Se o Pause se der a meio do video, isso significa que o NLE pediu os blocos de 01 a 05. Como os blocos 06 a 10 pertencem à outra metado do video, e como não a vamos ver, o NLE não os pede, e o disco não os entrega.
Supondo que queremos começar a ver o nosso video na timeline, um pouco depois do inicio e só durante breves momentos, colocamos o cursor nesse ponto e "dámos" o Play. Instantes depois "dámos" o Pause. Vamos supôr que os blocos que correspondem a essa parte do video são os blocos 03 e 04. Neste caso, o procedimento é o seguinte: o NLE pede primeiro o bloco 03, o disco entrega, o NLE mostra e entretanto pede o bloco 04. O disco entrega o bloco 04, o NLE mostra e entretanto fazemos o Pause. O NLE não pede mais nenhum bloco, até "dármos" novamente o Play.
Este funcionamento é chamado de acesso a nivel de bloco, o processo pelo qual todos os discos rigidos se regem, sejam eles internos ou externos, seja qual fôr o tipo de interface (SATA, PATA, SAS, SCSI, FC ou até mesmo ST−506 ), e independentemente de serem de tecnologia magnética ou SSD. Tendo a SAN o mesmo tipo de acesso, acesso a nivel de bloco, pode-se dizer que uma SAN é, grosso modo, um disco rigido. Num PC, uma SAN surge como um disco rigido, pois para o hardware não existe diferença entre um disco rigido convencional e uma SAN. O funcionamento é exactamente o mesmo, sem tirar nem pôr. Quando um programa pede dados ão disco rigido, o que o disco entrega são os bits que estão nos sectores, sendo que um sector ou bloco é composto de zeros e uns, que agrupados formam os nossos ficheiros.
O NAS, tal como a SAN, tem como função armazenar os dados e entregar os mesmos quando são pedidos. Um NAS e uma SAN são constituidos por discos rigidos, mas cujo funcionamento (do NAS) é diferente. Um NAS entrega o ficheiro inteiro, não o bloco.
Se o NLE pede o bloco 03 e 04, o NAS entrega todos os blocos que dizem respeito ão nosso video, que no exemplo são 10. Isso significa que o NAS lê todos os 10 blocos e os entrega ão NLE. Este por sua vez grava-os no disco rigido do PC (normalmente o mesmo disco aonde está instalado o SO e os programas, conhecido por disco C: ), aquilo que se chama de ficheiros temporários. È de salientar que o NLE só queria 2 blocos, mas no entanto vai ter que aceitar os 10, que é todo o ficheiro, gravar os mesmos no disco C: (fora do NAS, portanto), ler esses blocos (03 e 04) do disco C: e só depois é que vai poder mostar o conteúdo. Enquanto que numa SAN existe uma leitura, num NAS existirá uma leitura, a sua gravação e novamente a leitura desses dados.
Se quisermos ver o nosso video desde o inicio, a coisa não é muito diferente do acima exposto. O NLE começa por pedir o bloco 01, mas o NAS entrega todos os 10 blocos. O ficheiro é gravado na integra no disco C: e só depois é que é lido o bloco 01 e restantes para o NLE os poder mostrar. Ora tal procedimento acarreta uma perda de desempenho, pois para uma leitura haverá sempre duas leituras e uma gravação por parte do NAS. À a acrescentar a isso o facto de todo o ficheiro ter que ser lido, mesmo que só se queira uma pequena parte do mesmo. È por esta razão que o NAS tem um acesso chamado de acesso a nivel de ficheiro.
Este tipo de acesso (o de bloco e o de ficheiro) é igual para qualquer outro tipo de ficheiros ou programas. Os discos e a SAN entregam blocos (partes do ficheiro, portanto), o NAS entrega o ficheiro inteiro. E se bem que à primeira vista o funcionamento do NAS possa parecer um inconveniente, existem situaçôes e aplicaçôes que tiram vantagem deste procedimento. Mas para a área de video, o melhor mesmo é o funcionamento da SAN, pois é o que se assemelha a um disco rigido convencional.
Numa SAN, e na área da edição video, o desempenho a nivel de velocidade de escrita/leitura dos dados é semelhante ão disco rigido, pelo que não se verifica qualquer diferença quando se está a editar. Já no caso do NAS, as coisas são totalmente diferentes. Como todo o ficheiro tem de ser lido primeiro e depois gravado num outro disco rigido, normalmente o C:, e só depois é que ele é mostrado, acaba por se verificar um enorme atraso na resposta de todo o sistema, o que torna impraticável a edição video num NAS. E quanto maior fôr o ficheiro video/audio/outro, maior será esse atraso. A edição de um video com 1 segundo de duração poderá ser praticável, mas se tentarmos fazer o mesmo com um video de 10 minutos já a coisa será totalmente diferente.
Continua...