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Autor Tópico: Eu faço tudo!  (Lida 5096 vezes)

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Offline José Costa

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Eu faço tudo!
« em: 24 / Mar / 2012, 09:12 »
Boas.
À uns anos atrás fui contratado para fazer um trabalho. Consistia na gravação de uma festa de escola. Cliente já frequente, quiz fazer algo diferente dessa vez, algo melhor. E a solução passava por uma segunda câmera de video.

Uma coisa era investir um pouco mais do meu tempo, fosse na preparação ou na edição do trabalho, outra era contractar um segundo op. de câmera para o efeito. O orçamento não permitia tal, pelo que fiz aquilo que me parecia mais viável: eu próprio ia executar o trabalho com duas câmeras de video. Já tinha alguns anos de experiência nestas coisas do audiovisual, já tinha realizado dezenas de gravaçôes do genero (sempre com uma câmera), pelo que me senti capaz de sózinho dar conta do recado. Tudo dependia da preparação e da experiência que tinha, pelo que não ía ser um problema de maior. Acreditava eu que o sucesso era garantido, não tinha forma de me fugir. E não tinha.

Esquematizei o plano de acção, previ os eventuais imprevistos e fui com antecedência para o local das filmagens. Câmeras, tripés, gravador de audio e outro de video... nada foi deixado ao acaso. Antes uns dias já tinha ído ver o local das gravaçôes, e esse foi o primeiro problema detectado, mas rápidamente resolvido. As gravaçôes (e espectaculo) iam decorrer num cinema, pelo que tendo eu optado por ficar a cerca de 2/3 do espaço e numa zona central, isso significava que todas as cadeiras na mesma fila atrás de mim não podiam ser utilizadas, pois a minha pessoa de pé cortava a visão aos espectadores. Também duas cadeiras de cada um dos meus lados não podiam ser utilizadas, para evitar que alguém, sem querer, toca-se com os pés no tripé. Os espectadores à minha frente não eram problema, mesmo que alguém se levantasse a meio do espectaculo, pois ficando eu numa zona elevada, não seria afectado pelas eventuais acçôes dos "residentes". Não sendo o cinema muito grande e os espectadores esperados muitos, a ideia das cadeiras vazias não era do agrado da organização. Mas não havia outra hipotese, tinha de ser assim. E lá acederam.

Outro problema era as luzes. O espectaculo ía ter luzes psicadélicas, uma ou outra ocasião às escuras, só mesmo com uma vela acessa. O locutor ía ficar numa zona de sombra, entre cada actuação. Lá falei com a organização que sem luz não existe imagem, pelo que alguma coisa tinha de ser alterada. Lá se chegou ão concenso de que dois projectores de luz não muito fortes iam ficar sempre acessos durantes todo o espactaculo, permitindo assim a gravação do locutor e do que acontecia no palco, sem contudo afectar a coreografia que já estava definida, podendo as luzes psicadélicas serem utilizadas como estava previsto, sem alteraçôes. Explicada as razôes ão cliente, fácil era para eles reconhecerem que efectivamente era necessário aceder às minhas exigências, pois todas elas tinham a sua razão de ser. Não era mera vontade minha.

Dia da gravação, tudo preparado. Começa o espectaculo. E começam os problemas.

O palco tão depressa estava cheio pelos actores, como depressa estava vazio. Ora estavam todos concentrados a um canto, como depressa estavam em extremos opostos. Ora falava um num canto, ora mexia-se outro no outro lado oposto. Para complicar ainda mais a situação, a luz não era uniforme, por via de um projector de luz spot que estava a ser utilizado. Havia pontos do palco em que a intensidade luminosa era maior, pelo que obrigava a estar constantemente a regular a íris, em função do enquadramento optado, para não ficarem as imagens sub ou sobre-expostas.

Rapidamente me apercebi que não era exequível controlar as duas câmeras, pelo que o resultado ía ser o fracasso. Não estava a conseguir seguir o plano, as coisas estavam a se complicar, estava a perder o controle da situação. O espectaculo ainda estava no inicio, e já eu estava a visualizar o grave problema que ía ter pela frente, aquando a edição. Não estava a conseguir duas imagens consecutivas das câmeras, pelo que o raccord não estava a ser assegurado. O insucesso estava mesmo à minha frente a segurar uma placa, e não havia forma de o ignorar.

Rapidamente acabei por tomar a decisão que não queria tomar: abandonar o controle de uma das câmeras e concentrar-me numa. Efectuar o trabalho com base no que sabia ser seguro e cuja fórmula já dezenas de vezes tinha sido utilizada com sucesso. Por isso, coloquei a câmera B a enquadrar todo o palco, em automático, e esqueci que ela ali estava. Concentrei-me na câmera A, fiz de conta que só tinha as imagens daquela câmera.

Tal decisão veio-se a verificar como tendo sido a mais acertada. Voltei a ter o controle da situação, a assegurar o raccord das imagens, e mais importante ainda, eliminei o stress que a câmera B me estava a provocar. É preferivel fazer um trabalho simples mas bem feito que querer fazer um mais sofisticado e ficar mal feito.

Na edição, cheguei a utilizar algumas imagens da câmera B, mas a maioria foi mesmo as da câmera A. Tive foi muita mais dificuldade em editar o inicio do espectaculo, mas com alguma criatividade e muita persistência lá consegui dar a volta ao descontrole que as mesmas tinham, fruto daqueles minutos em que estava a tentar controlar as duas ão mesmo tempo. O trabalho ficou bom, mas eu noto que no inicio não ficou tão bem. Mas o mais importante foi o cliente que não deu por nada, e curiosamente, achou que no geral estava melhor que das outras vezes, mas aí creio que foi a psicologia a funcionar, pois ver "tanto" equipamento nas gravaçôes levou-o a pensar que o trabalho estava melhor. Mas não estava.

Depois dessa experiência, já por mais uma ou outra vez tentei alterar a "fórmula" com vista a melhorar o trabalho. Mudando de local, recorrendo a tripès posicionados em posiçôes diferentes, câmeras fixas,... mas sempre com os mesmos resultados e sempre cheguei à mesma conclusão: querer fazer tudo nunca dá bom resultado. Não é possivel um gaijo de dividir em dois e querer fazer o trabalho que a dois compete fazer. Querer fazer tudo sózinho leva-nos a cometer demasiados erros, aumenta as provabilidades de fracasso, aumenta o stress, o desconforto instala-se e acabamos por fazer mal o nosso trabalho. Um só op. de câmera já tem muito com que se preocupar, não precisa de mais preocupaçôes.

Querer fazer vários planos, em posiçôes diferentes, com equipamentos diferentes, em situaçôes diferentes... a ideia de que conseguimos fazer tudo é muito agradável para o nosso ego pessoal, mas na prática não se consegue. A cabeça trabalha a mil à hora a tentar controlar e a pensar em tudo, mas em algum ponto a coisa vai arrebentar e dar para o torto. Em reportagem, a necessidade de acção imediata não é compativel com experiências, com previsôes. Tem-se que ser capaz de controlar em tempo real as nossas acçôes, no equipamento. Reportagem não é cinema. Em cinema controla-se luzes, actores, locais, posiçôes de equipamento e de acção. Se corre mal, repete-se. Nada está perdido. Em reportagem, é só o individuo e a sua câmera. Se não trabalham os dois em conjunto, o fracasso é garantido. Não à volta a dar.

À certas ideias que são muito agradáveis. E a ideia de que conseguimos fazer tudo e bem feito é uma das que por norma nos agrada mais. Mas depois vem a experiência e nos mostra que estavamos enganados. Mas mais que nos mostrar a "ilusão" que estavamos a viver, é o fracasso com que somos confrontados. E temos breves minutos, por vezes mesmo segundos, para tomar as decisôes. E se não estamos preparados para alterar os planos, então o serviço está perdido.

Eu faço tudo! Gostava que sim, mas não sou capaz. Boas.
O profissional inovador não segue a multidão. Ele tem lucidez para remar contra a maré e não se importa em ser taxado como "um estranho no ninho". - Luiz Roberto Carnier

Offline rui ressurreição

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Re: Eu faço tudo!
« Responder #1 em: 24 / Mar / 2012, 21:30 »
JOSÉ COSTA, parece que adivinhas os meus problemas, e agradeço-te o facto de partilhares a tua experiência...como já disse aqui, a maior parte dos projectos que faço podem ser regravados...mas poderão surgir conferências, espetáculos ao vivos, igrejas, aulas, etc, em que o filme tem de ser "corrido"...

com uma camera sony nex5, uma mesa de mistura, um gravador digital audio, um tripé ou  um apoio de ombro, vários microfones, auscultador e filtros, e estou pronto...mas tem um problema...a camera aquece e portanto tenho de a parar...por isso tenho de ter uma 2ª que grave em hd...tenho a nikon d90 , mas geralmente uso-a para fotografia ou para gravar em 720p-24p...ou seja, terei de comprar uma camcorder para usar como camera A ou B...já pensei bastante, e como tenho muita "tralha", posso utilizar uma camera pequena...pode ser a canon hfm 406 por cerca de 400 euros(sensor cmos pro) ou então uma hdv  na worten outlet...talvez opte pela canon hfm 406...entretanto surgiu esta aqui por 850 eur+-, e nova...queria uma opinião...agradeço.boas.

http://www.simplyelectronics.net/mainproduct.php?pid=12751&sd=specs
« Última modificação: 24 / Mar / 2012, 21:41 por rui ressurreição »

Offline Filipe Araújo

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Re: Eu faço tudo!
« Responder #2 em: 25 / Mar / 2012, 14:00 »

 Boa tarde a todos, 

 Já não é a primeira vez que tenho este pensamento, mas este tópico acabou por o reforçar, é que eu acredito que o José Costa está na profissão errada ... sim profissão errada, a meu ver deveria ser jornalista.


 Nunca vi um trabalho seu, tenho curiosidade em conhecer o produto visual por detrás da sua linha de pensamento, desconfio que as regras que aplica ao seu trabalho serão próximas a metodologia de uma reportagem da BBC (tv inglesa), mas acredito que acredito que tal se deve a ética da defessa da intimidade do cliente, e pela consciência, que após colocar na web, é impossível controlar as imagens, não há password segura e isso saberá melhor do que eu.
 È um narrador nato, e faz-nos sentir menos sozinhos nas nossas frustrações, o conhecimento de causa do terreno faz de si uma mais-valia e quem o segue neste fórum a algum tempo, como eu, ajuda a crescer, se não for pelo vídeo que seja como homem. Lamento que mais não participem, seria bom para todos, há relevantes efeitos no discurso retórico, organiza-nos os pensamentos e por sequência melhora-nos o trabalho. Para além de que, o extremar de posições e a fundamentação delas, abre-nos posições mais definidas para uma maior identidade de trabalho, ex: pose/reportagem ou variáveis destas.
 Em suma, nunca vi as suas imagens, mas estou certo que se bateria bem com as palavras, bem como as poria a favor de causas nobres como a sua ética e honestidade intelectual o prova.
 Não é fácil admitir erros e expô-los publicamente, só porque não quer que os seus erros não sejam repetidos por outros, ainda que não os conheça. Há valores mais altos que falam, a classe do vídeo, os clientes e o transformar de um problema pessoal em uma solução coletiva.

 Em relação ao tópico em si, tenho duas frases que creio aqui encaixar como um luva:

 Não há conflito maior para um profissional do vídeo de reportagem, como o controle do racional e do emotivo, ou seja pensar com o coração e agir com a cabeça.
 E segundo, não há duas oportunidades de fazer tudo bem a primeira.

 Um bem haja para si, obrigado, Filipe Araújo. 

Offline José Costa

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Re: Eu faço tudo!
« Responder #3 em: 27 / Mar / 2012, 13:42 »
Boas.
Sinto-me incomodado com este tipo de comentários. "Incomodado" não é bem o termo, é mais não saber como lidar com eles. Se agradeço, se faço de conta que não o li. Razão de só agora responder.

Não seria honesto em dizer que não gostei do que li. Gostei e sinto-me honrado. Mas por outro lado, não mereço tal honra.

Participo com muito gosto neste espaço, e também lamento que mais não participem. Todos podiamos aprender um pouco mais, e por incrivel que pareça, sempre aprendo algo por aqui. Se não técnicamente, pelo menos pessoalmente. Defendo com unhas e dentes as minhas ideias e os meus ideais, mas sempre consciente de que outros poderão ter outras ideias e outros ideais.  E pelo respeito que as posiçôes dos outros merecem, equaciono sempre a hipotese de eu próprio estar enganado, assim me mostrem e provem tal. E não raras vezes isso acontece. Mais a procederem da mesma forma, e todos nós beneficiariamos uns com os outros.

Mas o silêncio não prova nem ensina nada. E é por isso que escrevo, na expectativa de que alguém possa aprender com as minhas experiências, e porque não, na real esperança de que eu próprio também possa aprender algo. Tenho sede de conhecimento, e a partilha é a melhor forma de o obter. Fico contente em saber que alguém neste espaço lê os meus "pensamentos", independentemente de concordar ou não com eles. O debate devia ser o próximo passo dos leitores, em vez de apenas lerem. Mas isso já é pedir muito a uma comunidade que é tudo menos unida. Resta a esperança de que com pequenos passos se consiga fazer grandes distâncias. É acreditar que sim.

"Tens a mania de que és bom!", já eu ouvi dizer. Eu não sou bom nem mau, apenas diferente. Com tudo o que de bom e de mau isso acarreta. Os meus trabalhos apenas refletem um pouco do que eu sou, muito melhores que alguns que circulam por aí, muito inferiores a muitos outros. Não tenho como intenção provar nada, mas se conseguir corresponder às expectativas do cliente, por um lado já fico satisfeito. Pelo outro lado serve de incentivo a fazer mais e melhor numa próxima oportunidade, tanto mais que o cliente muitas vezes não sabe o que quer ou o que esperar. Acima de tudo tenho de gostar do trabalho entregue, e nisso sou muito auto-critico. Sei que podia ter feito melhor, que podia ser melhor, se... na maior parte das vezes os meus trabalhos ficam muito aquém do que gostaria de ter feito, seja por uma razão ou por outra.

Quando eu era miúdo, não partilhava os meus brinquedos com as outras crianças, simplesmente porque não tinha brinquedos para partilhar. No entanto, alguns miúdos meus vizinhos partilhavam os seus brinquedos comigo, deixando-me brincar com eles. Hoje já não sou miúdo, e continuo sem ter brinquedos, pelo que só posso partilhar com os outros aquilo que tenho: conhecimentos e experiências. E sou aberto a todos quantos queiram "brincar" comigo. Nunca fiquei mais pobre por ajudar colegas nem por partilhar ensinamentos. Em vez disso, sempre cresci um pouco mais.

Não gosto de graxa, e muito menos de a dar. E abomino hipocrisias. Mas fico contente por ler certos comentários por aqui, quando genuinos, quanto mais não seja para me manter a vontade de por aqui navegar, de partilhar, e por me fazer acreditar de que não estou sózinho nesta vontade de tornar a nossa profissão mais digna e dignificante, para quem a exerce com paixão e orgulho. Porque eu gosto do que faço e tenho orgulho na profissão que exerço.

Mais uma vez, sinto-me honrado com as palavras proferidas, mas não mereço tal honra. Sou meramente um individuo que encara o video e tudo o que o rodeia com paixão. Honra a ser prestada deve é ser feita a todos quantos participam neste espaço, em maior ou menor grau, pois se este espaço existe tal não se deve a mim, mas sim a todos nós que com maior ou menor frequencia escrevemos. Melhor que ver um filme, é ser actor no filme, que é como quem diz, mais importante que apenas ler, é também participar no debate.

Obrigado, eu.

Costa, José Costa  8)

P.S. Eu sabia que aquela formação que tive no Jornal de Noticias um dia me ía ser muito útil. Mas ser jornalista não era a minha paixão. Já na altura dava muitos erros ortográficos.  :-({|=
O profissional inovador não segue a multidão. Ele tem lucidez para remar contra a maré e não se importa em ser taxado como "um estranho no ninho". - Luiz Roberto Carnier

Offline Filipe Araújo

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Re: Eu faço tudo!
« Responder #4 em: 27 / Mar / 2012, 17:27 »
 Sabe José Costa,

 também dou muitos erros, se você tem o amigo Google, eu tenho o amigo "corrector ortográfico".

 Sinais dos tempos que me dão mais confiança a tentar escrever.

 Filipe Araújo.
« Última modificação: 27 / Mar / 2012, 17:28 por Filipe Araújo »

Offline Diamantino simão

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Re: Eu faço tudo!
« Responder #5 em: 27 / Mar / 2012, 19:40 »
Boas

 O José Costa diz mais acima, que é pena alguns de nós, não participar-mos mais neste fórum com comentários e ideias, o problema é que nem todos nós temos a capacidade espremível como o amigo José Costa, parece um psicólogo da imagem e da tecnologia audiovisual. Grande Zé!!!!

 Cumprimentos

Offline Filipe Araújo

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Re: Eu faço tudo!
« Responder #6 em: 27 / Mar / 2012, 20:20 »
 Poderia aqui também, acrescentar duas frases:

 Isso trabalha-se, e, o caminho faz-se caminhando.


 Filipe Araújo.
« Última modificação: 27 / Mar / 2012, 20:21 por Filipe Araújo »