Boas.
À uns 15/20 anos atrás, na sequência de um serviço para um dia em que eu já estava ocupado, contratei uma outra pessoa para me fazer o trabalho de captura de imagem. Rapidamente me arrependi. A minha sorte foi eu ter equipamento e saber editar, e à custa de muito trabalho e depois de muitas voltas, lá consegui entregar um serviço minimamente apresentável ão cliente. Naquela altura as possibilidades não eram as que hoje existem. Não existia cá isto de NLEs e softwares milagrosos. Era tudo à base de fita, mesa de mistura e muito controle sobre os VCRs. Edição linear, para os que por tal passaram.
O cliente não se pronunciou sobre o resultado final, não disse se gostou ou não gostou. Também não me consegui aperceber pela expressão do cliente, pelo que até hoje estou sem saber se o trabalho foi ão encontro, ou não, das expectativas do mesmo.
Não sei se o cliente gostou ou não, mas sei que eu não gostei da sensação que tive quando entreguei o trabalho: se naquele momento tivesse um buraco à minha frente, metia-me por ele dentro. Mais: se tivesse uma sanita, pela sanita me enfiáva, de tal vergonha senti. Não que o trabalho estivesse assim tão mau, pois esforcei-me ão máximo para tornar apresentável o que estava deplorável. Mas nada daquilo correspondia ão que inicialmente tinha mostrado ão cliente.
A sensação ficou, assim como o amargo, e desde esse dia nunca mais contratei ninguém para fazer o trabalho por mim. Se não posso, não aceito o serviço. Prefiro deixar de ganhar algum dinheiro, a passar por situação igual. De lá para cá, já por duas ou três vezes me esqueci do sucedido e contratei alguém para me fazer o trabalho. Sempre me dei mal. Tem-me valido a imaginação e a edição para salvar o dia.
E recentemente, voltei a passar por situação algo igual.
Fui contratado por um colega para fazer um trabalho. Só captura de imagem, mas com uma variável: não era com a minha câmera (que é SD) mas sim com a câmera dele (HD). Já tinha antes feito um ou dois trabalhos com ela, mas é das tais coisas... sempre foi captura de imagem e nunca tive oportunidade de avaliar em profundidade as imagens resultantes. Tive a câmera na minha mão uns dias antes, para me habituar a ela e me inteirar da localização dos controles. Mas em dois ou três dias não se consegue (ou eu não consigo) ficar a conhecer totalmente a câmera, o que se pode e não se pode fazer com a mesma, como ela responde a esta ou aquela situação.
Fui para a selva, que é como quem diz, para o trabalho. Máquina diferente, receios acrescidos... tento não inventar muito, jogo mais pelo seguro, que não gosto de "dançar" muito com par que não conheço inteiramente. Prefiro passos certos e conhecidos, que saltos e cambalhotas para o desconhecido. E o dia chegou ão fim e as gravaçôes entregues. Fim de preocupação... pensava eu!
A "noticia" veio pelo telefone e o meu telefone ainda não é daqueles que tem câmera de video incorporada, porque se fosse, ele teria visto o quanto envergonhado fiquei. Fiquei sem saber o que dizer, sem saber justificar o sucedido, sem saber o porquê. Numa palavra, fiquei na mer&%.
Recebi um ficheiro video de um dos takes gravados por mim. A imagem estava escura e com forte tonalidade para os esverdeádos/cinzas. Numa palavra, estava uma boa droga. E o pior é que a grande parte do serviço estava assim. O WB foi sempre feito, tinha uma boa imagem no viewfinder e no LCD, mas o resultado final foi tudo menos o esperado. Que a máquina tem lá as suas particulariedades, já eu sabia, mas ali o erro foi sempre meu e não da câmera. Mas o pior é que não sei o que fiz de mal, não sei qual foi a acção que levou à reação. Não conhecer em profundidade o equipamento e não estar habituado a ele pode dar nestas coisas.
O que é que se pode dizer numa situação destas? Não me ocorre nada. Desculpas foram pedidas, mas desculpas não resolvem a situação. Porque ele também terá de enfrentar o cliente dele. Porque uma coisa é pedir-mos desculpas pelos nossos erros e outra totalmente diferente é pedir-mos desculpas pelos erros dos outros. Se já para mim é mau, para ele acredito que será muito pior. Tanto mais que a edição será feita por ele, ficando com o onus do trabalho extra a corrigir a imagem. Que nestas coisas de correção, nada fica direito quando já nasce torto.
Cerca de vinte anos separam uma história da outra, mas a sensação de vergonha e amargo na boca é a mesma. A mesma vontade de me enfiar por um buraco, a mesma vontade de me enfiar pela sanita dentro. Só existe uma diferença: à vinte anos atrás, fiquei sem saber se o cliente gostou ou não gostou do trabalho. Eu quero acreditar que sim, mas não sei. Com a situação recente, sei que o cliente (o meu colega) não gostou. E eu também não.
Pedi desculpa e ele aceitou. Mas as desculpas não melhoraram as imagens nem eu me sinto melhor pelo sucedido. E não à nada que altere isso. Boas.