PortugalVideo - Fórum

Temáticas Várias => Formação => Tópico começado por: José Costa em 16 / Fevb / 2011, 11:55

Título: Reconhecer que não se sabe.
Mensagem de: José Costa em 16 / Fevb / 2011, 11:55
Boas.
Reconhecer que não se sabe, não é dar parte de fraco. É um sinal de inteligência. Porque digo isto?
Em conversa com um amigo, sobre a formação que vou dar, diz-me ele: Tens alguns contras. Um deles é a formação ficar fora do Grande Porto. O outro, é o pessoal se conhecer aqui pelo fórum. Alguns podem optar por não se inscreverem, apesar de o desejarem. O facto de trabalharem na área dos audiovisuais, pode fazer com que se sintam pouco à vontade para se inscreverem na formação, pois tal pode ser encarado como algo negativo. Trabalharem em video e ficar-se a saber que não sabem muito do assunto, pode ser constrangedor para eles. Se fosse uma formação dada por alguém "desconhecido", que não os conhece-se do Portugalvideo, provavelmente até se inscreviam. Como és tú...

A verdade é que não tenho forma de contornar tal questão. Mas ela a existir, e acredito que existe, não faz muito sentido. É fácil para mim perceber quem está por dentro dos assuntos e quem está "apagado". Quando se lê por aqui que o João, Manel ou a Maria trabalham na área dos audiovisuais, e no entanto vêm fazer perguntas básicas, apenas confirmam aquilo que à muito se sabe: uma grande parte dos que se movimentam na área das reportagens BBC (de video falando), pouco ou nada sabem de facto sobre video. Têm por vezes boas câmeras, mas não sabem tirar partido delas. A compra foi porque a maioria tem uma igual, ou então o vendedor conseguiu ser mais persuasivo que os outros. E não é apenas uma opinião minha, isto de pouco ou nada saberem. É uma constactação de facto, pois conheço alguns que reconhecidamente nada sabem de video, apesar de fazerem serviços de reportagem.

Muitos têm o seu emprego de Segunda a Sexta, que nada tem a ver com isto. O video é apenas um meio de ganharem uns cobres por fora, pois todos sabem filmar. As câmeras têm um botão de automático e é só ligar no Power e carregar no REC. O cliente, nisto de casamentos, também na maioria das vezes não é muito exigente, quer saber é do preço. A qualidade do trabalho é secundário.

Se vejo com maus olhos quem nada sabe de video e no entanto anda por aí a fazer uns "biscates"? Devo reconhecer que não vejo com bons olhos, lá isso não. Sem o saberem e sem o quererem, estão apenas a prejudicar o mercado, e estão a prejudicar-se a si próprios. Com preços baixos não é possivel investir em formação e em equipamento, e estamos a atravessar um época em que novos investimentos vão ser necessários, mesmo para quem já tem uma câmera HD. Quem tenta cobrar o justo pelo seu trabalho, fazendo um bom serviço de reportagem, não consegue ultrapassar a situação, pois é dificil mostrar para o cliente o porquê da diferença de preços.

Não vejo com bons olhos o actual estado das coisas, e também não vejo com bons olhos certas perguntas de certos "profissionais" por aqui. É que muitas das vezes as suas perguntas não são com o intuito de aprenderem, mas apenas a de resolverem um problema com que se deparam no momento. Problema resolvido, termina o interesse pela aprendizagem. Não querem o conhecimento, o saber o porquê de algo estar a acontecer, querem a solução para esse problema. E quando se procura a solução, sem se tentar saber das causas do problema, não se consegue evoluir e prevenir futuros problemas.

Reconhecer que não se sabe, não é dar parte de fraco. Dar parte de fraco é apenas querer saber a solução. Boas.
Título: Re:Reconhecer que não se sabe.
Mensagem de: rui ressurreição em 17 / Fevb / 2011, 02:44
gostei do teu post...

JOSÉ COSTA, vou-te dar um exemplo dum caso que me está a acontecer neste momento:eu, "movimento-me " melhor na área de reportagens(sem ser bbc), videoclips, colóquios, documentários, videos para festivais(ficção), vídeo artístico criativo, institucional, etc...e há cerca de 15 dias+- contactei um fotógrafo de  "bbc`s" , e ele disse que queria ver trabalhos meus , mas que em princípio teria que trabalhar na edição com a plataforma dele(edius 6 num QOSMIO PORTÁTIL que já tem processador core i7 e tem gravador de blu-ray)...eu disse-lhe que ia estudar o software edius 6, mas que preferia editar no fce4(mac) ou no premiere pro(pc)...além disso tb iria trabalhar com a máquina dele , uma jvc hm700(lá estive a ver as especificações da máquina, e "ela" tem tantos ajustes, em tantos menus, que axo pouco provável que numa reportagem de bbc`s venha a ter tempo de os mudar conforme as situações forem mudando...provavelmente controlarei o foco, zoom, iris, shutter, gain, master pedestal, balanço de brancos e negros e pouco mais...o resto tenho de os deixar de fábrica)...

a maior parte dos trabalhos vai ser entregue em DVD(um ou outro em blu-ray) e eu disse que gostaria de trabalhar com a minha canon xl2(que está a funcionar perfeitamente e apesar do problema dos fungos, sabendo trabalhar com ela consegue-se passar ao lado, não apontando para luzes fortes)...mas ele insiste em que eu trabalhe com o equipamento dele(logo vou ter de aprender a trabalhar com 1 nova máquina e 1 novo software) e no local de trabalho dele(na loja onde ele tem o estúdio)...as minhas perguntas (talvez inocentes, não sei) são as seguintes:

1-o que interessa mais , é o resultado final ou dizer que se trabalhou com equipamento broadcast?
2-será que para casamentos e baptizados,e sendo o resultado final na maior parte dos casos em dvd, preciso material tão sofisticado e caro?
3-se por acaso, um dia calhar a ir ter com outro fotógrafo e mais outro, e um deles tenha por ex uma sony ex3, e trabalhe com media composer, o outro tenha por exemplo uma canon xl-h1 e trabalhe com media 100, eu agora tenho de saber trabalhar a 100 por cento com todos estes softwares...?(só o manual em pdf do final cut express 4.0 tem cerca de 1150 pags).

Fico pensativo com estas coisas...afinal , se não tivesse material nenhum, até se justificava que eu me adaptasse ao software e máquina dele...mas tendo, e não é pouco, tenho de andar sempre a mudar ao sabor dos fotógrafos?

outra coisa...eu vou estabelecer um valor de 175 eur para filmagens(cerca de 8h ao dia) e 175 eur para a montagem(edição)...o que acham destes valores?eu estive a ver a tabela de preços dos audiovisuais,e no que respeita à edição e sabendo que um filme demora cerca de 15-25 horas a editar, o preço até está baixo...na minha opinião...era só isto, pois em 2009 fiz um baptizado e levei 200 euros por tudo(filmagem e montagem) e depois a pessoa vendeu-o por 375 eur ou 400 eur...

Isto vem a propósito do que o JOSÉ COSTA vem dizendo aqui no fórum...gostava de saber a opinião sincera dos users...bons trabalhos.boas.RUI.
Título: Re:Reconhecer que não se sabe.
Mensagem de: Fernando Martins em 17 / Fevb / 2011, 16:17
É engraçado vocês estarem a falar nisso, pois passo pelo mesmo na minha área (animação 3D, efeitos especiais e composição). Há sempre alguém que pergunta se estou a usar Maya ou 3DS Max. Como se isso fosse importante! Mas não, não estou a usar nem um nem outro... e se digo isto por vezes soltam exclamações de espanto, como se fosse uma heresia não estar a usar nenhum dos dois únicos programas cujos nomes conhecem, visto serem os mais divulgados.

Umas vezes uso o Lightwave, outras o Softimage XSI, mas sinceramente, é completamente irrelevante o que se usa desde que o resultado seja bom: seja em Max, Maya, Cinema 4D, Modo, Lightwave, XSI, messiah, Houdini, Realsoft 3D ou mesmo o Truespace ou o Blender que, sendo gratuitos, por vezes são olhados de lado e com desconfiança.

Tal como na composição: "ah e tal, isto tem de ser feito em AfterFX"... mas porquê, meu Deus?! Só se for para depois tentar alterar qualquer coisa, e com certeza terão mais facilmente acesso a um AfterFX do que a um Fusion ou um Nuke!

Isto é como pedir a um escritor:
-Eu gostaria que me escrevesse um artigo, mas tem de usar uma caneta Parker.
-Mas eu uso uma Molin, a prosa é a mesma!
-Molin? Que é isso? Não serve, tem de ser uma Parker.
-E se for uma Bic?
-Não, com uma Bic nunca sai nada de jeito. Bom, se não fizer isso com uma Parker vou ter de procurar alguém que o faça!
>:(

Quanto à questão de fazer má figura por não se saber, sinceramente não acho que seja um entrave. Se há alguém que acha que faz má figura por não saber então nem devia estar na área. Estamos sempre a aprender uns com os outros e o que é básico para uns é uma ideia inovadora para outros.

Eu trabalho em Multimédia há mais de 20 anos e a quantidade de coisas que não sei é incomensurável! Mas todos os dias aprendo qualquer coisinha mais! De qualquer forma, a área é tão dinâmica que estão sempre a surgir técnicas e ferramentas novas, e o que era o supra-sumo da inovação num ano fica completamente ultrapassado noutro... é uma coisa "normal" neste ramo.

Há realmente coisas básicas, mas compreende-se que muita "malta nova" não as conheça porque como "chegaram" à área quando as ferramentas estão a muito alto nível, perderam muitas das coisas básicas que são a razão e as bases das tais coisas de alto-nível, e infelizmente isso já não se aprende em manuais nem em cursos! Por isso quando as coisas "de alto nível" falham, por vezes ficam enrascados.

Refiro-me ao facto de nós, os "velhotes", termos vindo a acompanhar as tecnologias desde os tempos do bit e do byte, dos tempos do Spectrum e do ZX81. O Pessoal de agora chaga e tem o Windows 7 à disposição: não têm problemas (graves!) de memória, nem de espaço de disco, nem de interface, nem de comandos nem de sintaxe... mas não sabem os básicos e dou alguns exemplos:
-encontrei alunos acabados de sair da universidade de cursos de design, e ao fim de 3 anos não sabiam fazer ALT+TAB para mudar de aplicação (descobri isto depois de os ver meticulosamente a abrir e fechar o Photoshop sempre que era preciso ir ao CorelDraw e vice-versa! Meu Deus, o tempo que eles demoravam a fazer as coisas!)
-encontrei estagiários que, ao fazer a composição de uma página de revista, não sabiam fazer colunas de texto com imagens embebidas com "wrap around", faziam caixinhas de texto separadas entre as imagens e depois, claro, era uma trabalheira reajustar tudo!
-encontrei pessoas adultas, com anos de utilização de computadores no seu dia-a-dia, e que não sabiam usar o CTRL para fazer multiselecção, copiando um ficheiro de cada vez ou apenas caso estivessem seguidos. Isto criava dificuldades tremendas no Powerpoint, porque havia sempre coisas a estorvar e apenas sabiam seleccionar usando o rato com "box-selection", logo seleccionavam coisas a mais que não sabiam como retirar da selecção.
-encontrei pessoas nos Estados Unidos que, para resolver um problema no seu computador, ao lhes pedir para abrirem uma janela de DOS abriam o mesmo ficheiro duas vezes porque pensavam que eu estava a falar espanhol (dizendo DOS=dois)
-a maioria das pessoas não sabe ou nem imagina que usar shortcuts aumenta a produtividade numa percentagem maluca. Isto desde o simples navegar pela Net até aos programas de produção.

Bom, mas isto já vai extenso e eu também tenho mais coisas para fazer. Foi só para dar o meu bitaite!
Título: Re:Reconhecer que não se sabe.
Mensagem de: José Costa em 17 / Fevb / 2011, 17:07
Boas.
A questão é: é aceitável que você não saiba fazer o seu trabalho, dizendo-se profissional da àrea?

A mim não me interessa se você utiliza o software A ou B para fazer o trabalho. Não me interessa se demora 10 ou 20 minutos. Interessa-me o trabalho final. E se lhe peço para me desenhar uma roda, e depois você me apresenta um quadrado, porque não sabe como fazer uma roda com o software, então alguma coisa está mal. Não sou eu que tenho de verificar se você é capaz de fazer a roda, você é que tem de verificar se está minimamente preparado para a fazer. Ou isso, ou terá de ir aprender antes de começar a trabalhar profissionalmente.

Aprender todos nós aprendemos. Eu todos os dias aprendo algo, mas não posso ir fazer um trabalho, contando em aprender pelo meio.

À coisas que são básicas para um op. de câmera. O controle da luz é uma delas. E quando se vê um op. de câmera a se colocar de lado em relação a uma janela, porque está em contra-luz e não sabe mudar os f-stop ou onde fica a Iris, então alguma coisa está mal. Não me venham dizer que é tudo uma questão  de "alguém que acha que faz má figura por não saber então nem devia estar na área".

Aprender todos temos direito a aprender. E muitas vezes aprendemos com os erros. Mas querer trabalhar profissionalmente sem primeiro saber coisas básicas é que não. OK, eu quero ser astronomo, mas atenção que eu não sei qual a velocidade da luz, o que é uma órbita ou a posição dos planetas. Não à problema, fazer má figura por não se saber não é grave.

Digo eu, não sei... Boas.
Título: Re: Reconhecer que não se sabe.
Mensagem de: Fábio Poupinha em 20 / Set / 2011, 00:53
Entendo e concordo com tudo escrito.

As pessoas têm medo da simplicidade, do freeware, de ler, de usar shortcuts, carregarem muitas teclas ao mesmo tempo, instalar software, ler foruns, dizer que não sabe as coisas com medo que a sua reputação baixe (falta de humildade)....

Pior que isso a meu ver, é que a grande maioria não quer aprender, não sabe ouvir, só quer falar... Como diz o outro algo parecido:

"As pessoas esquecem-se qu têm dois ouvidos e uma única boca"

Abraço!

F.
Título: Re: Reconhecer que não se sabe.
Mensagem de: rui ressurreição em 20 / Set / 2011, 06:31
este tópico já estava quase a ficar "congelado"...ainda bem que houve alguém que pegou nele...parabéns FÁBIO pelos teus trabalhos...gostei imenso e estão bem feitos.Sinto que há malta nova a entrar no FÓRUM todos os dias e a animar isto...já te inscreveste para  A MOSTRA DO PORTUGALVIDEO?Ainda estás a tempo...boas.
Título: Re: Reconhecer que não se sabe.
Mensagem de: Edgar Feldman em 22 / Set / 2011, 01:23
Percebo toda esta inquietação. Mas é preciso entender que de repente apareceram câmaras que focam automaticamente, controlam a exposição automaticamente, balanços de brancos automático, etc. Os telemóveis filmam!
Esta geração cresceu num mundo em que os meios produção se tornaram mais acessíveis e fáceis de usar. Já não é preciso ir para a academia para aprender por uma câmara a trabalhar. Se tivesse 20 anos não tenho a certeza se não faria o mesmo. Faz parte da arrogância da juventude achar que são os melhores e que não tem nada a aprender. De facto é perigoso isto tudo. Mas ao mesmo tempo lembro de uma frase dita pelo Coppola faz muito anos: - Acredito que no futuro há de aparecer uma miúda de 7 anos que fará um filme que será uma obra prima.